Ano positivo para preços do café em meio à volatilidade

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    Porto Alegre, 23 de dezembro de 2020 – O mercado internacional de café, e especialmente para o produtor brasileiro, teve um ano de 2020 positivo em meio à volatilidade e turbulência. Foi um período de altos e baixos, com o mercado influenciado pela pandemia do coronavírus, mas de preços sustentados.

     Na Bolsa de Nova York para o café arábica (ICE Futures US), como destaca o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a bebida teve muitos altos e baixos, mas sustentou uma performance média positiva, iniciando um movimento de recuperação, depois de um 2019 de preços muito achatados. “O início do ano foi de forte pressão negativa, por conta da pandemia. Além do financeiro ruim, o café também foi pesadamente afetado pela safra recorde colhida esse ano pelo Brasil”, comenta.

     Por outro lado, a escassez da oferta de arábicas suaves, produzidos pela Colômbia e América Central principalmente, e os estoques certificados baixos na ICE US criaram “bolhas de alta” ao longo do ano, ressalta Barabach. “O atraso das floradas e a potencial de quebra da safra brasileira 2021 acabaram criando um ambiente de volatilidade positiva e recuperação dos preços. Porém, não dá para esquecer que ao longo de 2020, por duas vezes, a 2ª posição de arábica na ICE US foi negociada abaixo da linha de 100 cents. É um forte indicativo de pressão vendedora”, adverte.

     No balanço do ano no gráfico do mercado contínuo, o arábica na ICE US até o fechamento do dia 22 de dezembro acumulava baixa de 4%, tendo fechado o último pregão de 2019 a 129,70 centavos de dólar por libra-peso e agora nesta terça-feira (22) a 124,45 centavos.

     O dólar foi componente e variável importantíssima no ano de 2020, sobretudo para o produtor brasileiro. Barabach comenta que a moeda americana acabou disparando diante do aumento da aversão ao risco com a pandemia do coronavírus. Ele lembrar que o dólar iniciou o ano cotado a R$ 4,01 e chegou a trocar de mãos a R$ 5,97 em meados de maio, pico de alta. Recuou e chegou a cair a R$ 4,84 para voltar a subir e terminar o ano possivelmente acima da linha de R$ 5,00. No balanço do ano até o dia 22, a moeda americana acumulava alta de 28,6%. ]

     “Essa flutuação cambial foi determinante para a performance dos preços físicos de café ao longo do ano”, afirma o consultor. Além de garantir remuneração para os produtores em reais, a alta da moeda americana deu ainda maior competitividade às exportações brasileiras, que devem fechar o ano com recorde, superando 43 milhões de sacas.

     Na composição “ICE + Dólar + Diferencial” houve uma predominância cambial, aponta Barabach. “O resultado disto tudo sobre o preço físico foi um 1º semestre de escalada nos preços, impulsionado pelo câmbio muito favorável. Em termos nominais esse mesmo patamar de preço foi, novamente, alcançado no mês de setembro e agora no final do ano. Porém, em termos reais, o poder de compra da saca de café era muito maior no 1º semestre (rentabilidade do produtor), uma vez que a inflação cambial ainda pesava pouco sobre o mercado. Isso explica a agitação vendedora nos primeiros meses do ano”, avalia o consultor.

     No mercado físico brasileiro, destaque ao arábica de bebida melhor, especialmente o café cereja no ano. O cereja fino chegou a ser negociado acima de R$ 700,00 a saca em setembro, impulsionado pela carência de suaves no mundo. “Também é importante mencionar o forte fluxo externo de conilon. Com o real desvalorizado, o conilon brasileiro ficou mais barato em dólares, atraindo compradores externos, que buscavam alternativas à pouca oferta do Vietnã e ao atraso nos trabalhos na Indonésia”, ressaltou Barabach.

     O produtor brasileiro em 2020 soube aproveitar os momentos de altas externas ou de dólar elevado e adiantou as vendas de uma safra recorde. Depois administrou mais a oferta nos últimos meses do ano, esperando repiques da bolsa ou câmbio. No balanço do ano, o arábica de bebida boa no sul de Minas Gerais com 15% de catação subiu de R$ 525,00 a saca (fim de 2019) para R$ 590,00 a saca (dia 22 de dezembro), acumulando alta de 12,4%.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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