Café cai em NY com correção técnica após atingir máximas desde 2017

358

    Porto Alegre, 05 de março de 2021 – Após atingir na semana passada os preços mais altos desde setembro de 2017, o café passa por um momento de correção técnica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização internacional. Até esta quinta-feira (04), NY teve cinco sessões seguidas de baixas, mas ainda mantém-se em patamares elevados, na faixa de US$ 1,30 a libra-peso.

     As perdas dessa semana vieram diante de realização de lucros com ajustes técnicos, seguindo outros mercados e com o dólar firme contra o real, o que estimula as exportações brasileiras. Condições climáticas favoráveis à safra de 2021 do Brasil, com boas chuvas e temperaturas amenas, atenuando as preocupações com a quebra da produção, fecharam os motivos para as quedas.

     Na quinta-feira da semana passada, dia 25 de fevereiro, o café fechara a 140,05 centavos de dólar por libra-peso, maior nível desde setembro de 2017. Porém, o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que o café mudou o patamar de atuação para cima, mesmo com esses ajustes recentes. Ele destaca que as recentes quedas do café na Bolsa de Nova York foram compensadas pela firmeza no dólar, especialmente frente ao real. E isso trouxe um certo equilíbrio aos preços físicos internos do café.

     O consultor pondera que a posição Maio/2021 não conseguiu sustentar a linha de 140 cents na ICE US, fraquejando junto com outros mercados. O índice de commodities CRB recuou desde o pico no final de fevereiro, pressionado pelo realinhamento negativo no preço do petróleo. “O fato é que as commodities estavam infladas demais e, por isso, vulneráveis a ajustes. Não dá para esquecer, que o café só conseguiu vencer a linha de 140 cents na ICE US impulsionado pelo rally nas commodities. Nesse sentido, a correção no índice CRB, claro, afeta o comportamento do café no mercado internacional”, comenta.

     Mesmo com a queda, a bebida ainda sustenta uma vantagem em relação à resistência anterior de 130 cents, confirmando a mudança no patamar de atuação, aponta o consultor. A firmeza no dólar, especialmente frente ao real, é outro fator negativo para as cotações do café no mercado internacional. “O dólar muito alto aumenta o interesse de venda, gerando pressão sobre as cotações da bebida no mercado mundial”, diz.

     No balanço da semana até esta quinta-feira (04), o café arábica na ICE Futures US para maio caiu de 137,50 centavos de dólar por libra-peso para 132,15 centavos, acumulando baixa de 3,9%. No mesmo comparativo, o café robusta na Bolsa de Londres recuou na semana 4,5% no contrato maio.

     O relatório indica que o mercado físico interno sofreu ligeiros ajustes, mas segue firme e muito próximo das máximas. O fluxo de vendas continua cadenciado, com o vendedor administrando suas posições. A diferença, talvez, é o interesse maior por parte do vendedor. As bebidas melhores avançam acima da linha de R$ 700 a saca, ampliando a vantagem em relação a referência média deflacionada para o período. Destaque também para as posições com safra nova. A ideia para Set/21 gira em torno de R$ 750/760 e para Set/22 a R$ 790/800, dependendo a descrição e origem. “Um patamar que vem atraindo vendedores, especialmente para fixação antecipada da safra Brasileira 2022”, avalia Barabach.

    Os demais cafés também ganharam valor. O café rio com 20% de catação das Matas de Minas subiu a R$ 520 a saca. Já o conilon 7/8 capixaba foi a R$ 455 a saca. “Essa mexida nos preços impactou também a postura da indústria doméstica, que aumentou o interesse pelo conilon para baratear custo. E isso acabou dando sustentação ao conilon, escasso nesse final de temporada. A ideia de venda do conilon posto na indústria no Norte do Paraná ou em São Paulo já se aproxima da linha de R$ 500 a saca, o que assusta o torrefador”, comenta. A indústria local só deve ter algum alívio com a chegada da safra Brasileira 2021 e alguma acomodação no dólar, muito esticado por conta da incerteza interna, lockdown e lentidão na imunização. A colheita de conilon começa, precocemente, agora em março em Rondônia. Porém, o volume só deve ganhar corpo a partir de abril, conclui o relatório.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

Copyright 2021 – Grupo CMA