Dólar sobe no maior percentual desde setembro de 2020 com política e exterior

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    Porto Alegre, 06 de julho de 2021 – O dólar comercial fechou em forte alta de 2,39% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2090 para venda, no maior valor de fechamento desde 31 de maio e no maior percentual de alta desde 18 de setembro do ano passado, em sessão de aversão ao risco no exterior e em meio à forte cautela no mercado doméstico com a política local.

   “O dólar se fortaleceu no mundo todo e tivemos uma venda em massa de ações na bolsa brasileira, possivelmente, provocada por uma incerteza com relação à economia nacional, o que provoca uma retirada de fluxo financeiro dos ativos de risco daqui. Isso acabou enfraquecendo o real frente ao dólar”, diz o analista da Toro Investimentos, Braulio Langer.

   Ele reforça que a moeda norte-americana vem de uma “grande queda” nos últimos meses. “A alta de hoje também reflete uma realização de lucro das posições vendedoras, que estavam apostando na queda do dólar após vários meses de altas consecutivas. É natural que depois de uma queda de mais de dois meses, o mercado se reequilibre e suba um pouco”, avalia.

   O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que a cautela com o cenário político foi o “grande driver” do mercado doméstico em meio ao fluxo de notícias negativas envolvendo nomes do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro. “É um movimento extremamente protecionista e isso deve continuar. Nos próximos dias, poderemos ver o dólar visitar os R$ 5,30”, diz.

   O cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, reforça que o quadro político é bastante conturbado e as últimas notícias envolvendo o nome de Bolsonaro têm apontado “perda de capital político” do presidente. Cortez destaca que o mercado faz uma adaptação a esse cenário deteriorado com a continuidade de agenda negativa marcada pelas denúncias feitas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga os gastos do governo federal no combate à pandemia de covid-19.

   “É um temor de que a fragilidade política afete a agenda econômica”, diz, acrescentando que a corrida presidencial de 2022 surge como um fator que entra no radar dos investidores e dos ativos. “As pesquisas eleitorais apontando vantagem do ex-presidente Lula estão no radar. É mais uma etapa de incorporação da corrida eleitoral na precificação dos ativos. O mercado vai trabalhar com a polarização entre Lula x Bolsonaro”, pondera.

   O diretor de tesouraria de um banco estrangeiro avalia que parte da valorização do real, saindo do nível de R$ 5,60 em meados de abril para R$ 4,90 no fim de junho – acumulando queda de 11,67% no segundo trimestre, na maior queda percentual para um trimestre em 12 anos – foi impulsionada pelos investidores locais. “Eles venderam cerca de US$ 10,0 bilhões. Eles gostaram do alívio, mas rapidamente reverteram as marchas”, comenta.

   O profissional acrescenta que o mercado estava subestimando os ruídos políticos, mas tem ignorado o impacto fiscal. “O governo está reagindo à crise anunciando gastos adicionais. Com a cadeia de abastecimento prejudicada e uma nova rodada de depreciação do real, a inflação vai piorar ainda mais”, aposta, reforçando que o Banco Central (BC) “precisa” agir. “Caso contrário, o real deve revisitar os R$ 5,30 adicionando pressão social e inflacionária. É hora de taxas mais altas e intervenção cambial agressiva”, observa.

    Amanhã, o destaque da agenda de indicadores fica para a ata da última reunião de decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), em meados de junho. Para o operador de uma corretora local, Investidores aguardam mais pistas sobre a postura da autoridade monetária em relação aos próximos movimentos. “O que pode trazer ajustes”, finaliza.

    As informações partem da Agência CMA.

Revisão: Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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