Manobra com teto de gastos e anúncio de auxílio para caminhoneiros fazem dólar disparar

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    Porto Alegre, 21 de outubro de 2021 – O dólar comercial fechou em R$ 5,6670, com alta de 1,88%. A sessão, que já começou tensa devido à fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, que ontem afirmou ter “licença para gastar”, subiu ainda mais de temperatura após o presidente Jair Bolsonaro anunciar um auxílio emergencial aos caminhoneiros, além da manobra para recalcular o teto de gastos baseado no Indice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

   De acordo com o executivo da REAG Investimentos, Antonio Machado, “o mercado já vinha com dúvidas sobre a credibilidade do arcabouço fiscal. Romper o teto retira não apenas a credibilidade, mas também a previsibilidade da política fiscal brasileira”.

   Machado acredita que o país trilha um caminho sem volta: “Vamos precisar construir uma nova âncora fiscal, pois na prática o teto fiscal acabou”, sacramenta. Ele ainda fala sobre os planos de recalcular o teto baseado no INPC: “É um índice maior, por isso o Bolsonaro disse que não iriamos furar o teto. Mas isso ainda precisa ser aprovado”, explica.

   De acordo com o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio Leal, “todo o arcabouço fiscal, no qual o mercado se baseava, está caindo”. Leal ainda explica o que é o teto fiscal: “Ele não é um número, mas um símbolo, algo educativo. A partir do momento em que você o torna imprevisível, ele perde a função”.

   Para Leal não há dúvidas que todo este cenário de incertezas é precificado: “Não há previsibilidade para um investidor que, por exemplo, compra um papel de longo prazo, ele não tem garantias sobre se irá receber a quantia que lhe é devida”, analisa. “Até um mês atrás, você estava comprando o carro de um amigo, sabendo da procedência dele. Agora, este carro é de uma pessoa que você nunca viu. É claro que você não vai pagar o preço de antes, mas um valor muito menor”, metaforiza.

   Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “o mercado já entendeu que a questão não é se o teto será furado, mas sim o tamanho deste rombo”. Ela revela que teme por medidas populistas que visem as eleições de 2022, piorando ainda mais a situação fiscal.

   Quartaroli explica que, na sessão de hoje, todos os pares do real estão em queda, mas a moeda brasileira é a mais prejudicada, o que também reflete as incertezas globais: “A desaceleração nos Estados Unidos e China prejudica os emergentes, além do que eles são nossos principais parceiros comerciais. Vai ficando mais claro que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode antecipar a alta dos juros”, prevê.

   De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o Guedes podia ser considerado um guardião do fiscalismo, e hoje lembra muito o que era efeito no governo anterior”.

   Rebatendo as críticas de que o mercado está “exagerando”, Vieira é enfático: “Não existe um exagero. Todo o esforço que foi feito até agora, pode ser perdido. O futuro é preocupante”, pontua.

   Ainda segundo Vieira, poderíamos surfar no sucesso que tem sido a vacinação no Brasil, mas o que ocorre é o contrário: “Estamos na vanguarda da vacinação mundial, mas aí o presidente fala que, caso se contamine novamente, vai usar a cloroquina. É impressionante”, lamenta.

     As informações partem da Agência CMA.

Revisão: Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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