Preços do café atingiram nível mais alto em 4 anos no final de abril

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   Porto Alegre, 29 de abril de 2021 – O mercado internacional de café teve um mês de abril de altas fortes nos preços do arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização mundial. Também dispararam para o robusta na Bolsa de Londres e as cotações avançaram no mercado físico brasileiro acompanhando esses ganhos nas bolsas. A queda do dólar em abril no Brasil apenas suavizou o impacto altista de NY.

     O café em NY em abril subiu rompendo a linha de US$ 1,30 e adiante o patamar de US$ 1,40 e de US$ 1,45 por libra-peso, galgando ao nível mais elevado desde fevereiro de 2017, mais de 4 anos.

Mas há fundamentos por trás desses ganhos, envolvendo apreensão com o déficit na oferta global em 2021/22 e com o clima seco para as lavouras brasileiras.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o vigor de alta na ICE US está atrelado, em parte, aos ganhos em outras commodities. O índice CRB voltou à linha de 200 pontos. O petróleo em alta ajuda a fortalecer as demais commodities. “O fato é que o cenário econômico mundial é mais otimista, diante das perspectivas de avanço da imunização contra a Covid-19 e da retomada das atividades nos EUA, em parte da Europa e na China”, comenta.

     Já o “dollar index” (DXY), índice que compara o dólar com outras moedas fortes caiu, e dólar mais fraco tem efeito positivo (inverso) sobre o preço das commodities. “Um cenário financeiro favorável ao café”, diz. O dólar comercial no Brasil em abril caiu até o dia 29 de R$ 5,629 para R$ 5,335, acumulando baixa no mês de 5,2%. Isso sustenta o café nas bolsas porque dólar em queda no Brasil também representa menor competitividade e estímulo aos embarques brasileiros.

     Porém, Barabach ressalta que só o cenário financeiro não seria suficiente para explicar a intensidade do movimento de alta nos preços do café na ICE US. Há fundamentos por trás. O fundamento é a safra brasileira, com as chuvas irregulares no 1º trimestre de 2021 em algumas regiões produtoras de café do Brasil. “O tempo muito seco ao longo do mês de abril e a previsão de pouca chuva em boa parte das áreas de café brasileiras nos primeiros dias de maio acendem o sinal de alerta produtivo. A falta de chuvas, embora positiva para o andamento da colheita daqui para frente, pode trazer sequelas produtivas tanto para a granação do arábica da safra 2021 como também para o potencial das lavouras da safra 2022”, avalia. Isso tudo justifica uma reação nas cotações.

     Além disso, a chegada da primeira massa de ar polar ao Brasil ajudou a derrubar as temperaturas, especialmente no Sul do país. “E isso ajudou a lembrar o mercado da temporada fria brasileira, induzindo à proteção contra o inverno”, comenta Barabach. Sempre há o temor com geadas. Operadores monitoram a entrada de uma outra massa de ar polar a partir do dia 05 de maio, que deve ser mais intensa que a atual, com chance de chegar mais forte ao Sudeste do país. A princípio, sem potencial para a formação de geadas em áreas de café. “É o ‘mercado de clima’ com chuva e frio ajudando a potencializar ganhos para o café”, aponta.

     A preocupação com o déficit na oferta contra a demanda na temporada 2021/22 vem sendo comentada por traders, o que pode se agravar com os problemas climáticos no Brasil. Fundamentos altistas para o café.

     No balanço de abril na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), o contrato julho do arábica acumulou valorização de 14%, tendo fechado março em 125,40 centavos de dólar por libra-peso, e no dia 29 de abril em 143,00 centavos. Em Londres, o contrato maio do robusta subiu no mesmo comparativo 6,3% no mês.

     Já no mercado físico brasileiro de café, as cotações também subiram, mas menos do que nas bolsas devido ao dólar em baixa. O produtor seguiu dosando a oferta, mostrando estar capitalizado e com vendas adiantadas da safra que começa a ser colhida. Observa o clima preocupante, a chegada do frio, e aguarda por novas subidas de NY ou do dólar que tragam preços mais altos à bebida no país para voltar a aproveitar os momentos e negociar um pouco mais.

     No balanço de abril, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, com 15% de catação subiu 10%, passando de R$ 700,00 para R$ 770,00 a saca na base de compra. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, no mesmo comparativo, avançou 2,3%, passando de R$ 435,00 para R$ 445,00 a saca.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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