Próximo ano promete ser desafiador para suinocultura devido a custos

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     Porto Alegre, 30 de dezembro de 2020 – O ano de 2021 promete ser desafiador para suinocultura brasileira, por conta do quadro de custos, principalmente no primeiro semestre. Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Allan Maia, o milho tende a apresentar um quadro de estresse e preços elevados no país nos primeiros meses do ano, com uma safra verão de menor volume e com logística concentrada na soja.

     Outra variável importante para o setor no próximo ano é o ritmo da exportação, que será ditado, a exemplo deste ano, pelas compras da China. “Os embarques brasileiros devem apresentar ótimo desempenho, considerando a grande lacuna de oferta presente no país asiático, consequência da Peste Suína Africana (PSA). Vale destacar que os casos de PSA reduziram drasticamente na China e, juntamente com os preços altos da carne e do suíno vivo, vão encorajar a busca pela recomposição dos plantéis”, afirma.

     De acordo com a avaliação de Maia, a curva de importação chinesa deve começar a declinar entre o final de 2021 e 2022. “O governo chinês vem estabelecendo metas ambiciosas, além de liberar grandes estímulos financeiros para a expansão da sua produção, passando de colonial para uma atividade mais organizada e industrial, aumentando a produtividade e avançando na questão da biossegurança”, analisa.

     Diante deste cenário, o produtor brasileiro deve se atentar neste ponto, não ampliando de maneira agressiva os alojamentos ao longo de 2021. “Outros mercados ao redor do mundo se deparam com grandes plantéis, como é o caso dos Estados Unidos, Espanha e Canadá e seus preços devem ser impactados assim que a China desacelerar suas compras. O próprio produtor brasileiro já vem aumentando sua base de matrizes este ano, mesmo em um ambiente de custo severo, visando atender a demanda chinesa de 2021”, comenta.

     Conforme as previsões de SAFRAS & Mercado a produção brasileira de carne suína deve atingir 4,91 milhões de toneladas em 2021, um aumento de 2,8% em relação às 4,78 milhões de toneladas esperadas para 2020. “Vale ressaltar que o custo de produção deve impactar a retenção dentro das granjas nos primeiros meses do ano, o que deve fazer com que os animais permaneçam sendo abatidos com peso mais leve”, ressalta.

     O analista destaca também que muitas notícias relacionadas ao rebanho chinês influenciam o mercado neste momento, como os relatos das autoridades chinesas em relação à presença de coronavírus em lotes de carne e embalagens que estão chegando no seu território. “O governo chinês anunciou recentemente que o número de matrizes atingiu 41 milhões de cabeças e pode ser restaurado plenamente a níveis anteriores a PSA aproximadamente no segundo trimestre de 2021. Este número chama grande atenção, considerando o longo ciclo produtivo e a presença da PSA em províncias do país até alguns meses atrás”, afirma.

     Maia entende que o fato dos preços do suíno e da carne bovina terem apresentado um acentuado movimento de queda recentemente se deve ao fato do país ter comprado volumes acentuados dessas proteínas como um preparativo para o seu principal feriado, o Ano Novo Lunar. Um contraponto é o dado do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado em outubro, estimando o número de matrizes chinesas em 31 milhões de cabeças no início do próximo ano, projeção que respeita a visão do ciclo. “De qualquer forma, esse é uma variável que merece grande atenção, uma vez que o grande contraste de informações pode trazer surpresas aos mercados ao redor do mundo em 2021. Todos os principais exportadores mundiais, sendo eles os EUA, Canadá, UE e Brasil são dependentes das compras chinesas, com risco de grande depressão dos preços caso as compras não se confirmem”, alerta.

     Para as exportações de carne suína brasileira em 2021, SAFRAS projeta volumes de 1,137 milhão de toneladas, crescendo 12,6% em relação às 1,010 milhão de toneladas deste ano. “Um fator limitante para um movimento mais forte dos embarques do Brasil é a quantidade de plantas aptas a enviar para a China. Novas habilitações seriam necessárias, esbarrando na questão da ractopamina, utilizada em grande parte do Brasil, mas não aceita no país asiático”, explica.

     Conforme Maia, a exportação no próximo ano será chave para o equilíbrio do mercado brasileiro, ainda mais em um cenário de expansão de produção, considerando que o ambiente econômico seguirá adverso, afetando a demanda. “A oferta interna de carne suína tende a equilibrada, atingindo 3,779 milhões de toneladas em 2021, 0,2% acima das 3,771 milhões de toneladas previstas para este ano. Apesar da esperada retomada da atividade econômica no pós Covid, o país tende a seguir com altos níveis de desemprego e com a renda da população deteriorada”, conclui.

     Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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